Tudo o que Salvador tem e é reconhecida por – alegria, congraçamento, colorido, criatividade, trabalho, inovação, persistência – está materializado no trio elétrico, provavelmente a invenção baiana mais conhecida e exportada de todos os tempos. E na esteira do trio, a história de outros negócios criados ou aperfeiçoados aqui mostra que ter um DNA soteropolitano é um diferencial que favorece o sucesso. E não basta extrapolar nossas divisas e fronteiras, é preciso sair levando Salvador junto.
O empresário Fritz Moura passou parte deste mês de março nos EUA. É lá que ele pretende implantar novas unidades de sua empresa, a Cleannew. A experiência empreendedora de Moura nasceu em novembro de 2014 com uma empresa de lavagem de carro – a Autoclean, marca que ficou com seu ex-sócio. A blindagem de sofá apareceu em seu caminho cerca de um ano depois, a partir da sua perspicácia, da criatividade e do jogo de cintura, como observa o consultor e especialista em empreendedorismo José Nilo Meira. “A criatividade é uma característica que tem de estar presente em todo empreendedor. O sucesso do empreendimento depende da criatividade, pois o empresário não pode apenas fazer mais do mesmo”, diz.
Moura percebeu a existência da demanda pela lavagem de estofados ainda enquanto cuidava dos carros. “Os clientes, ao receberem os carros lavados, perguntavam se eu lavava sofás, o que me levou a estudar e a entrar nesse mercado”, revela. “A lavagem de carro era feita a noite, em grandes condomínios. Cobrava R$ 25 por carro. Se lavasse dez carros, fechava a noite com R$ 250 ainda tendo de pagar funcionários. De dia, se lavasse um sofá ganhava os mesmos R$ 250. Decidi investir nesse segmento”. Em dezembro de 2015 nascia a CleanNew.
Para entrar no novo mercado, Moura importou maquinário italiano, comprou material de limpeza importado – mais que isso, pediu aos fabricantes desses produtos uma modificação na fórmula de bactericidas para preservar as cores do estofado e aumentar a durabilidade do serviço. Ele também apostou na formalização do serviço, que, segundo ele, era explorado em Salvador apenas por pessoas físicas, a maioria atuando na informalidade. “Meu público-alvo é de alto padrão, que têm sofás que custam R$ 100 mil. A formalização, o fato de saber que está lidando, é importante para esse público”, diz.
O último diferencial foi no nome do serviço. Como tinha os melhores produtos, maquinários e apresentação, ele criou o conceito de blindagem de sofás, que é uma lavagem seguida de impermeabilização feita de maneira mais profunda, resistente e com garantia de um ano. Em março de 2017 a Cleannew entrou no sistema de franchise. Hoje, a marca está em cidades brasileiras. E em alguns meses também estará presente em Miami e Orlando (EUA).
Egito
O colorido e o calor de Salvador inspiram os rótulos dos produtos da Flora Brasil, empresa de cosméticos para cabelo da médica oftalmologista Karla Leite. Ao contrário da Cleannew, a empresa nas nasceu com foco na exportação. No caso, para o restrito mercado árabe. Ela exporta cerca de 3 mil sachês por mês para o Egito e está em fase de fechamento de contrato de fornecimento para o Catar. “Havia uma procura muito grande por redutor de volume capilar brasileiros, pela queratina brasileira, que, no entanto, ao longo doa anos passou a ficar mal vista por causa do uso do formol. Eu aproveitei o espaço para criar produtos naturais, sem uso de formol”, conta Karla.
Munida de seus tino comercial e espírito empreendedor, a médica procurou o Sebrae para receber orientações e buscou se cercar de profissionais especializados para ajudá-la a montar a empresa e os produtos, todos sem químicos e com ativos da flora brasileira a exemplo da castanha do pará . “E também sem testes que signifiquem maus tratos a animais, como prevê o protocolo de comércio com os países árabes”, diz. “Fui ao Egito mais de cinco vezes até liberarem a importação”, relata.
Karla diz que seus produtos fazem sucesso por alguns motivos específicos daquela região. O primeiro é que a mulher árabe, por debaixo das vestimentas, é muito vaidosa com seus cabelos e se preocupam em agradar seus maridos. O segundo é que a água usada por elas é dessalinizada e ou reciclada, o que prejudica o cuidado com os fios e exige delas o uso de redutores.
“Acredito que o fato de ter nascido e de viver em Salvador me influenciou a ter um olhar para diferentes etnias e culturas, procurando ver o que é comum e o que é diferente. O soteropolitano é mais maleável e fácil de se adaptar a diferentes realidades”, reflete. Para Meira, o que a história de Karla traduz os valores atribuídos a Salvador – além persistência e da criatividade – é a capacidade de agregar. “Ela se cercou de boas pessoas, o que é fundamental para o sucesso de qualquer empreendimento”.
Moda
Nilo defende que outros negócios podem ser criados e impulsionados em Salvador e ganhar o mundo. E que a melhor forma de aproveitar o potencial da cidade é investir na chamada economia criativa, que é a que tem por base a criação: artes, teatro, moda, softwares e jogos para computadores e celulares. “Temos o principal, que é um povo criativo e empreendedor. E a economia criativa é uma indústria sem chaminé, ou seja, não é poluente. É ideal para uma cidade como a nossa”, aponta o especialista.
A Soul Dila está no mercado criativo desde 2008, transformando o espírito de Salvador e do soteropolitano em moda. Um de seus sócios, Eduardo Bahiana, diz que a capital baiana é uma “imensa fonte de inspiração”. “Começamos colocando imagens da cidade nas estampas. Depois as frases do ‘baianês’. A galera gostou. Temos fotos de clientes com nossas roupas em vários países”, fala.
O empresário descreve o estilo da Soul Dila da mesma forma que pintaria a cidade: colorido, alegre, receptiva e com uma energia diferenciada. “A Bahia tem muito potencial de venda. Usamos a estampa nas camisas como meio de comunicação, para propagar mensagens positivas. Nossa camisa é como um outdoor pessoal”.
A Soul Dila vai lançar, nas próximas semanas, sua 15ª coleção (inverno 2018), mantendo sempre o mesmo estilo. Emprega 55 pessoas e possui 8 pontos de vendas e possui um e-commerce.
Foi este mesmo espírito soteropolitano que trouxe, há 23 anos, a Tidelli para a capital baiana. “A Bahia moldou a marca. A Bahia é nosso habitat”, afirma Luciano Mandelli, um dos três irmãos gaúchos que são sócios da empresa. Com lojas nas maiores cidades do Brasil e nos EUA, a Tidelli é referência de móveis para varanda e jardim. Segundo ele, Salvador agregou à companhia cores, artesanalidade e criatividade. “Alguns designers baianos famosos já assinaram a criação de peças da Tidelli, entre eles Fernando Peixoto e Manoel Bandeira”, lembra.
Fonte: correio24horas.com.br
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